O Brasil e as músicas de protesto (ou a falta delas)

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O Brasil viu nos últimos meses, o povo sair às ruas buscando melhores condições de vida, bradando contra a corrupção, contra tudo e contra todos. Movimentos assim não aconteciam no país desde 1992, quando os caras-pintadas ajudaram a derrubar Collor do poder. O Brasil se acostumou a ver protestos durante a ditadura e na campanha das Diretas, que pedia a volta à democracia. Estes movimentos sempre tiveram músicas populares que os marcaram. Artistas jovens compunham hinos que eram levados às ruas e cantados a plenos pulmões pelos ativistas. Mas e hoje? Que música seria cantada nas ruas? Que artista jovem representaria este movimento?

Durante a ditadura surgiram músicas que se tornaram clássicas canções de protesto, como “Para não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, que até hoje é símbolo de resistência. Chico Buarque é autor de diversas músicas usadas para protestar, como “Apesar de Você” e “Roda-Viva”. Chico virou um marco contra a ditadura, mesmo que não assuma este rótulo.

Quando o povo foi às ruas, a partir de 1984, no movimento das “Diretas Já”, o rock estava dominando as rádios e a televisão brasileira. Logo, um dos maiores hinos do movimento veio de uma banda de rock paulistana que dizia que “a gente somos inútil”. A música do Ultraje a Rigor virou um dos símbolos do movimento e teve seu papel no imenso movimento que tomou as ruas do Brasil. No mesmo movimento, vários cantores estavam engajados e Fafá de Belém, cantando Coração de Estudante, de Milton Nascimento e Wagner Tiso, foi consagrada como a “Musa das Diretas”.

É claro que nas Diretas Já, músicas como as de Vandré e Chico foram lembrados. Entretanto, neste período, bandas de rock surgiam para dar um tom novo e um ar mais jovial ao movimento. Barão Vermelho e Legião Urbana representam bem o período, muito embora não tenham participado diretamente do movimento. No dia em que Tancredo foi eleito para a presidência, tinha início o primeiro Rock in Rio e Cazuza subia ao palco enrolado em uma bandeira do Brasil e dizia que o Brasil precisava mostrar a sua cara.

No início dos anos 90, estas caras foram pintadas de verde e amarelo pedindo o impeachment de Collor. Aí, apareceu “Zé Ninguém”, do Biquíni Cavadão. “Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém, aqui embaixo as leis são diferentes” cantavam os jovens nas ruas.

Hoje nas ruas não se canta uma música atual, simplesmente porque não se tem nada no cenário musical de hoje que fique na memória e na história. A música que faz sucesso no Brasil hoje é altamente comercial e artistas são preparados para fazer sucesso. Tudo muito efêmero. Algo que surgisse dizendo representar o movimento seria puramente por oportunismo e certamente de péssima qualidade. Os gritos de torcida de futebol e uma ou outra música antiga eram cantados nas ruas, mas o povo não ouvia algo novo. Os professores de história não poderão ligar o movimento a uma canção como hoje se faz nas salas de aula. O que resta ao povo é torcer para que o país melhore e isso se aplica também à música.

TV brasileira aposta no passado e não se renova

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Globo faz festa e não mostra nada de novo em sua programação

Parece que as emissoras de televisão no Brasil se esqueceram do significado das palavras renovação e inovação. Os canais, principalmente os de sinal aberto, têm apostado em coisas antigas na sua programação e, embora muitas tenham dado certo, é um sinal de falta de criatividade.

A Globo, por exemplo, fez uma imensa campanha, para divulgar a programação de 2013, que é exatamente igual à grade de 2012. A maior contratação da emissora para este ano, o humorista Marcelo Adnet, está engessado em um formato que não é o seu. O “Dentista Mascarado” é bom, mas Marcelo Adnet precisa alçar vôos próprios e ter liberdade para escrever e atuar. Do contrário, jamais chegará aos pés do que era na MTV. Além disso, a Globo segue apostando em formatos ultrapassados e extremamente criticados, como o “Zorra Total”, que se baseia em humor de bordões, que era muito popular nas rádios das décadas de 40 e 50, ainda na era da “TV de pedra lascada”. A Globo também sofreu uma queda brusca de qualidade com “Salve Jorge”. A novela de Glória Perez substituiu a excelente “Avenida Brasil”. A história de João Emanuel Carneiro foi um marco na história recente das telenovelas, por seu formato e texto originais. Já “Salve Jorge” naufragou em críticas e deboches por sua história um tanto sem nexo. A Globo e a TV brasileira precisa de mais “Avenidas” e menos “Salves”.

Apesar de a Globo ter demonstrado que renovação não foi o seu forte em 2013, a emissora que é o maior exemplo de que falta de renovação também pode ser sucesso é o SBT. A emissora de Silvio Santos passou à frente novamente da Record 2012, graças a uma dupla que nada tem de nova: Carrossel e Silvio Santos.  Silvio, o maior mestre da televisão, com 82 anos, mantém seu programa com os mesmos quadros de décadas atrás e o sucesso é o mesmo, por vezes, batendo a Globo e sempre deixando a Record comendo poeira. Silvio também teve a brilhante ideia de fazer um remake de Carrossel, novela mexicana de 1989, sucesso estrondoso no Brasil no início da década de 90. Escrito pela mulher de Silvio, o sucesso da novela foi imediato. Carrossel levou a emissora ao segundo lugar geral no Ibope com uma história infantil bem feita, atores mirins bem escalados e com uma produção que há tempos não se via no canal de Silvio Santos. Mesmo sendo uma história repetida e já antiga, Carrossel encantou as crianças e tirou o sossego da Record. Se a fórmula deu certo, para quê mudar? De novo, o SBT vai apostar em um enlatado que foi sucesso no passado. A nova versão de Chiquititas estreia em junho, substituindo Carrossel, com a meta de manter a audiência nas alturas. Com a mesma equipe de Carrossel, tendo a mulher do patrão à frente, a novela deve continuar prendendo às crianças, assim como fazia nos anos 90. A sensação de Déjà Vu é constante

De Super Homem a vilão brasileiro, 2013 no cinema está repleto de superproduções

Com a entrega do Oscar no final de fevereiro, o cinema inicia mais um ciclo, que passa pelo Festival de Sundance, Cannes, Berlim, Bafta e Globo de Ouro até chegar de novo ao Oscar. Fazer uma lista de filmes mais esperados do ano não é fácil. Este ano, temos desde o retorno às origens de um dos maiores super heróis do cinema até uma superprodução com Wagner Moura como vilão.

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Já em abril, estreia Homem de Ferro 3. A julgar pelos dois filmes anteriores do herói, este não deve deixar nada a deseja para os fãs de Tony Stark. Outro vingador que vai aparecer no cinema, mas só em novembro é o Deus do Trovão, Thor. O segundo filme do herói, assim como o terceiro de Stark, faz parte da estratégia da Marvel de criar terreno para o segundo filme dos Vingadores, que deve chegar aos cinemas em 2015.

Saindo da Marvel e indo para a DC, tem o esperado “O Homem de Aço”, filme que pretende revitalizar a história do Super Homem e contar a história de Clark Kent para as novas gerações. O filme tem tudo para ser muito melhor que o decepcionante, “Superman – O Retorno”, de 2006. 300 e Sin City também são baseadas em histórias em quadrinhos e terão seu segundo longa nos cinemas nesse ano. 300, que volta a ter Rodrigo Santoro no papel de Xerxes, tem estreia programada para junho e a sequência de Sin City deve estrear em setembro.

Uma das comédias mais esperadas é o final da trilogia “Se Berber, Não Case”. Depois da fraca sequência, a terceira parte deve ser melhor e desta vez não tem casamento, mas claro, bebedeira, amnésia e confusão. Em “É o Fim”, o ator James Franco está dando uma tremenda festa em sua casa. Diversas celebridades estão presentes no local, como Rihanna e Emma Watson. O que eles não esperavam era, de repente, ter que enfrentar um apocalipse zumbi. Os atores interpretam a si mesmo nessa comédia inusitada que deve ser um dos maiores sucessos do ano.

A maior bilheteria do ano deve ficar com a sequência do bom filme “Jogos Vorazes”. “Em Chamas”, estreia em novembro e continua a saga de Katniss Everdeen, vivida pela oscarizada Jennifer Lawrence, desta vez numa disputa contra a Capital.

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“Elysium” chega em agosto aos cinemas e marca a estreia de Wagner Moura em Hollywood. O brasileiro interpreta um vilão no filme de ficção científica do mesmo diretor de “Distrito 9”. O longa traz Matt Damon no papel principal, além de Jodie Foster e Alice Braga.

Ainda neste ano, estreia a continuação de “O Hobbit”, de Peter Jackson; o remake do clássico de suspense “Carrie, A Estranha”, além do segundo filme solo de
Wolverine e do novo filme de Star Trek. A animação mais esperada é “Universidade dos Monstros”, sequência do mega sucesso “Montros S.A.”. 2013 termina com o filme biografia da

Princesa Diana, que deve ser um dos mais premiados nos festivais e tem estreia programada para dezembro.

Vale ressaltar que alguns filmes que são muito aguardados fracassam e outros que ninguém conhecia viram fenômenos. Neste período entre-oscar, temos filmes para todos os gostos. É pegar sua pipoca e tratar de não perder nada.

O modelo Glória Perez de se fazer novela

Que Glória Perez é uma das principais autoras de novelas do Brasil, ninguém duvida. Mas que suas novelas têm se tornado cada vez mais repetitivas e seguindo uma mesma fórmula também é inegável.

Glória criou um modelo para fazer novelas de sucesso. Eis a receita: Primeiro escolha um país exótico e com cultura bem diferente da nossa (Marrocos, Índia e Turquia, por exemplo). Crie personagens naturais deste país, que falam três ou quatros palavras (melhor se forem bordões) no idioma nativo. Some-se a esse cenário algumas famílias ricas brasileiras que transitam entre estes dois países em um mesmo capítulo e claro, não se esqueça dos pobres. Eles são essencial. Não pode faltar o merchandising social: crianças desaparecidas (Explode Coração), imigração ilegal (América) e tráfico de pessoas (Salve Jorge), para citar alguns.

Além disso, Glória tem a infelicidade de que seus mocinhos originais não caiam no gosto do público ao longo das novelas, o que faz com que ela tenha que mudar o rumo dos personagens no meio do caminho como o cigano Igor, em Explode Coração, o peão Tião, de América e o Dalit Bahuan, de Caminho das Índias, que terminaram a novela sem as suas respectivas mocinhas. Mas isso é contratempo.

Ao usar sempre a mesma forma fórmula, Glória pisa em um solo que já está acostumada e sabe que dá resultado. Entretanto, com Salve Jorge, esta receita pode não dar certo. A novela protagonizada por Nanda Costa vem depois de umas das tramas mais bem sucedidas dos últimos anos. “Avenida Brasil”, de João Emanuel Carneiro tinha um texto, direção e uma forma de se contar a história que revolucionaram a moderna telenovela brasileira.

Glória, no entanto, repete a mesma fórmula de suas últimas novelas. “Caminho das Índias”, recebeu o Emmy, maior prêmio da tevê mundial e suas outras novelas também tiveram boa repercussão sim, mas “Avenida Brasil” trouxe outra ideia.  De que é preciso inovar, contar histórias novas, de um jeito novo. Novela é ficção. Não se tem a obrigação de se mostrar um problema enfrentado pela sociedade, de ir a outros países. Pode-se fazer uma novela boa, somente ali mesmo no subúrbio. Basta ter criatividade e intenção de fazer o novo. Basta contar bem uma boa história.

A rota de Forrest Gump pelos EUA

Ele correu até o fim da cidade. Resolveu ir até o fim do condado. Depois até o fim do Estado e aí até a Costa. Então ele correu de volta algumas vezes. Mas até onde Forrest Gump correu? E por quanto tempo? E qual a rota que ele fez?

Sabemos que ele começou em sua cidade natal, a fictícia Greenbow, no Estado americano do Alabama, em 1 de outubro de 1979. A data é conhecida, porque um locutor anuncia que o presidente Carter tinha passado mal naquele dia devido ao forte calor.

Sua primeira parada é Santa Monica Yacht Harbor, na Costa Oeste americana, sabemos disso porque ele corre através de um arco com o nome do local. De Santa Monica, ele se vira e vai até um farol situado na Costa Leste, com vista para o Oceano Atlântico. A partir daí, nos é dado muito pouca informação sobre os locais específicos que fazem parte da rota de Forrest, interpretado magistralmente por Tom Hanks.

Em um ponto, assim como sua moda do jogging está prestes a pegar, ele é abordado por uma multidão de repórteres lá para marcar a quarta vez que Gump atravessa o rio Mississipi. Neste momento mais de dois anos se passaram desde que Forrest começou a correr.

Com base nessas informações a partir do filme, a lista de locais de filmagem, e uma análise do roteiro, é possível de gerar a rota que Forrest segue em sua jornada através dos Estados Unidos:

O ponto A, o lugar de onde ele começa é um ponto arbitrário no meio do Alabama, visto que a Greenbow do filme é de ficção. Também é preciso gerar os pontos F, J e B (que estão no mesmo lugar) na Costa Leste – não há fotos desses locais no filme, mas eles são citados de forma vaga. O resto são representações precisas do que foi retratado no filme. Você pode brincar e mudar a rota por aqui

O próprio Forrest nos conta que correu durante 3 anos, 2 meses, 14 dias, e 16 horas, e nesse tempo ele correu 15,248 km, atravessando os Estados Unidos por cinco vezes, antes de decidir que era hora de ir para casa.

Forrest correu 0,94 km/h em média e em média 91 km por semana. Qualquer pessoa pode correr assim. Então, o feito de Forrest não é de forma alguma impossível.

Fonte: http://www.centives.net

Para os desavisados:  “Forrest Gump: O Contador de Histórias” é um filme dramático de 1994, dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Tom Hanks. O filme ganhou seis Oscars,  incluindo “Melhor Diretor” para Zemeckis e “Melhor Ator” para Hanks.

A carta que John Lennon mandou para Tim Maia

Tim Maia, além de ser um dos maiores cantores do Brasil também era famoso por suas esquisitices, manias e excentricidades e claro, por não comparecer aos próprios shows.

Em meados da década de 1970, Tim entrou de cabeça na Cultura Racional, uma espécie de seita ou religião que cultuava um ser chamado “Racional Superior”. Entre outras coisas, a Cultura Racional pregava que os seres humanos vieram de um planeta distante e que se cumprissem alguma regras, discos voadores viriam e levariam os homens para o mundo perfeito, neste tal planeta longínquo.

Nessa época, Tim Maia parou de beber, de fumar, de usar qualquer tipo de droga, de transar, de comer exageradamente, ou seja, parou com tudo o que mais gostava e que o caracterizava. Nesse período, Tim Maia gravou dois discos: “Racional Superior” I e II. Os discos foram um retumbante fracasso de crítica e de vandas, embora hoje este disco seja cultuado pelos fãs do cantor e colocados entre os melhores de sua carreira.

Tim saiu da gravadora, perdeu dinheiro, perdeu fãs, pois ninguém queria ouvir toda aquela pregação religiosa. Passou a usar somente branco e a tentar converter todos os amigos.

Teve até uma briga homérica com seu vizinho Raul Seixas, tentando convertê-lo. Raulzito defendia com unhas e dentes o uso de álcool e drogas, principalmente a maconha. Tim pregava o ensinamento pelo “Universo em Desencanto” e toda a caretice do mundo.

Para expandir sua filosofia, Tim resolveu converter também todos os astros da música mundial. Enviou livros da seita para James Brown, John Lennon e outros artistas. Enviou em português mesmo. “O Racional Superior faria com que eles entendessem”, dizia ele.

Porém, o Racional Superior não foi muito com a cara de John Lennon, que não deve ter entendido muito bem aquele livro. Algum tempo depois de enviar o livro para o ex-líder dos Beatles, Tim recebeu de volta uma carta vinda do edifício Dakota, em Nova Iorque.

No envelope vinha uma foto de John Lennon inteiramente nu e com os dizeres:

“Dear freak, I don’t understand portuguese. What about LISTEN to this photo?

John Lennon.”

(Em tradução livre: Seu louco, eu não entendo português. Que tal prestar atenção nesta foto?)

Tim, obviamente, passou horas ou dias xingando Lennon e afirmou categoricamente que o Racional Superior tinha dado só mais nove anos de vida a John Lennon e que ele iria morrer em 1984. O Racional só esqueceu de combinar isso com Mark Chapman, que matou o cantor em 1980.

Bibliografia:  Vale Tudo – O som e a fúria de Tim Maia.   Motta, Nelson.

Milton Nascimento e o Clube da Esquina

Milton Nascimento também surgiu nos festivais, assim como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Geraldo Vandré. Ele impressionou muita gente com seu timbre e com suas composições. “Bituca”, como é conhecido, nasceu no Rio de Janeiro, em 1942 (mesmo ano que outros grandes de nossa música: Caetano, Jorge Mautner, Tim Maia, Paulinho da Viola, Gilberto Gil e Jorge Ben).

Queria o destino que ele se tornasse o maior nome da música de Minas Gerais, para onde foi ainda bebê com sua família adotiva, que se instalara em Três Pontas, cidade no sul do Estado.

Em 1963, mudou-se para Belo Horizonte, onde conheceu jovens compositores como ele. Morava no mesmo prédio da família Borges, que tinha nada menos que 11 irmãos com raro talento musical.

Entrou em um grupo com o irmão mais velho Marilton. Ficou encantado com o talento do caçula, Salomão, o Lô, e ficou o melhor amigo de Márcio. Em BH começou as ter aulas de harmonia com Toninho Horta e formou com Beto Guedes o duo “The Beavers”, depois de passar dias inteiros ouvindo os Beatles sem se cansar ou parar. Os garotos de Liverpool, que tanto influenciaram o Tropicalismo, mexeriam ainda mais com a turma de Minas Gerais.

Em um bar de BH, Lô Borges mostrou a Milton alguns acordes soltos. Milton pegou seu violão e começou a compor uma música em cima desses acordes, ao mesmo tempo Márcio Borges escreveu a letra para a música. Nascia ali, a canção “Clube da Esquina”, que daria nome ao movimento liderado por Milton, que surgiu nas Gerais e se espalhou pelo mundo.

Clube da esquina pode ser qualquer reunião de pessoas em uma esquina de qualquer cidade do planeta, mas se esse cruzamento for o da Rua Divinópolis com a Rua Paraisópolis (nome de duas cidades mineiras) em Belo Horizonte no bairro de Santa Teresa, certamente deverá ser o grupo de músicos que fizeram dessa esquina um lugar utópico que entrou para a história de nossa música.

Milton, pouco tempo depois de chegar à capital, conheceu o cantor Agostinho dos Santos, que, por sua vez, inscreveu três de suas músicas no FIC, sem o conhecimento do compositor: “Maria minha fé” “Morro Velho” e “Travessia”. Quando ficou sabendo, Milton já tinha as três músicas classificadas para as finais do festival.

O disco com esse título “Clube da Esquina” só viria a ser lançado em 72, mas bem antes disto artistas mineiros estavam espalhando os acordes desse movimento pelo Brasil e pelo mundo.

Depois do disco “Travessia” de 1967, na esteira do sucesso no Festival Internacional, Milton chamou a atenção de uma gravadora estadunidense que o convidou para gravar um LP, que saiu em 1968 sob o nome de “Courage”. Ele foi o representante pós-bossa nova do Brasil no mundo.

Juntaram-se a Milton nesse movimento, além de Lô e Márcio Borges, os músicos Fernando Brant, Beto Guedes, Ronaldo Bastos, o pianista três-pontano Wagner Tiso, Toninho Horta e Flávio Venturini, que viria a formar o 14-bis.
Eles combinavam música pop, folclore mineiro, Beatles, pitadas jazzísticas e bossa-novistas, definitivamente algo estava acontecendo em Minas.

Em “Estação Brasil”, Milton diz que não gostava que os chamassem “grupo mineiro”. Eu não gostava desse negócio de grupo e além do mais, não éramos todos mineiros, mas de qualquer maneira aquilo tudo acabou virando um movimento. Teve uma época que teve o Clube da Esquina e a Tropicália, mas falávamos mais ou menos as mesmas coisas, só que de maneiras diferentes.”

Com os discos e as músicas desse pessoal, o “Clube da Esquina” saiu de Belo Horizonte e firmou seu nome junto aos grandes da música brasileira. Como já foi dito, uma das maiores influências para o Clube da Esquina e para a Tropicália e também para muitas coisas que aconteceram no histórico ano de 1968 foram os Beatles, principalmente depois do lançamento em 1967 do disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, o mais psicodélico e considerado o melhor disco da Fab Four.

O Clube da Esquina (principalmente Milton Nascimento) é, e tem de ser, reverenciado como um dos melhores (estetica, harmoniosa e melodicamente) “movimentos” da música brasileira.

Abaixo veja uma história em quadrinhos, baseada em uma história contada no livro “Os sonhos não envelhecem” de Márcio Borges. (Clique na imagem para ampliar)

Filmes escondidos na madrugada

A Globo tem a lamentável prática de passar filmes excelentes em horários pouco propícios para a audiência. Sessões como “Corujão” ou “Sessão de Gala” mostram, não raras as vezes, filmes extremamente bons que mereciam horários melhores na grade de qualquer emissora. Como sou um homem da madrugada, que, às vezes, vai dormir, com o cantar do galo, tenho a oportunidade de assistir a essas sessões televisivas.

Dois filmes que vi há algum tempo em uma dessas sessões me chamaram muito a atenção. Eram filmes não-hollywoodianos que chamam apelam pelo lado emocional e pela belíssima interpretações dos atores e pela fotografia exemplar.

O primeiro é um filme que assisti na noite de natal alguns anos atrás, depois da missa do galo: “Feliz Natal”.  Um filme europeu de 2006, que trata do relacionamento de tropas britânicas, francesas e alemãs na noite de natal de 1914, durante a Primeira Guerra Mundial. Baseado em uma história real, o filme mostra a véspera do natal de 1914,quando oficiais e soldados, alemães e aliados, que diariamente massacravam uns aos outros depuseram suas armas para compartilhar vinho e comida, trocar fotos e recordações e ainda disputar uma partida de futebol na neve. Foi um ato extraordinário de generosidade e humildade humana, embora, mais tarde, os oficiais superiores dos soldados  tivessem interpretado o ocorrido como confraternizar com o inimigo e os tivessem feito pagar por isso.

Os três exércitos enviam bebidas e brindes a seus homens no front para lhes proporcionar uma espécie de Natal tristonho. Os alemães recebem 100 mil árvores de natal, completas com luzinhas e enfeites. O padre escocês Palmer desencadeia o fato inusitado ao começar a tocar gaita de fole, sendo que os outros escoceses começam a cantar junto. Então Sprink, alemão, que levou sua mulher à trincheira para cantar para seus companheiros, responde cantando “Noite Feliz”, e Palmer o acompanha. Palmer então entoa outro hino de Natal, que Sprink começa a cantar, e então, colocando uma árvore de Natal em cima da trincheira, ele próprio sobe para o alto dela, colocando-se em risco como possível alvo de tiros. Ninguém dispara, e em pouco tempo a trincheira se ilumina com inúmeras árvores de Natal. Os homens de todos os lados saem das trincheiras e se cumprimentam. “Feliz Natal” (Joyeux Noë, no original, em francês), é possivelmente, o melhor filme de natal já produzido, mas sobretudo é um retrato épico de humanidade, solidariedade e de confraternização. Ele mostra como homens destroçados pela guerra conseguem se sentir mais felizes e mais humanos, ao menos na noite em que nasce Jesus.

Fique atento nas madrugadas e na noite de natal, ligue a TV depois da Missa do Galo. Pode ser que a Globo nos dê a alegria de mostrar essa fenomenal história.

O Outro filme que assisti durante minhas noites insones e que gostei muito foi “Amizade sem Fronteiras”, apesar do título em português de filme de Sessão da Tarde (Monsieur Ibrahim et les fleurs du Coran, no original) é um filme francês espetacular, de 2003, com o mito do cinema Omar Sharif, que conduz o filme com maestria que só o astro de Doutor Jivago e Lawrwence da Arábia poderia fazer.
Omar Sharif vive o personagem que dá o título original do filme, Ibrahim, um grisalho comerciante muçulmano dono de um modesto mercadinho na Paris dos anos 1960. Sua loja fica na Rue Bleu, uma travessa que serve de ponto para prostitutas e eventual cenário para filmes (Isabelle Adjani faz uma ponta como uma estrela inspirada em Brigitte Bardot!), logo em frente à casa do adolescente judeu Momo (Pierre Boulanger). Aos 16 anos, a maior preocupação do jovem é poupar o suficiente para utilizar os serviços das vizinhas – a cena na qual ele perde a virgindade presta homenagem ao clássico O homem que amava as mulheres, de Truffaut – e ouvir animados rocks no rádio. Ambos fornecem um alívio momentâneo da realidade dura que ele vive ao lado do pai (Gilbert Melki), sempre ausente e taciturno. Para guardar o dinheiro, Momo tem como hábito roubar pequenos itens da loja do Ibrahim.

Um dia, entretanto, o dono do mercado inicia uma conversa com o garoto e revela ser muito mais do que parte da paisagem da loja. Começa uma relação de amizade crescente entre os dois, potencializada
quando o garoto é abandonado pelo pai, que culmina numa viagem pelo interior da Turquia.0 “Uma amizade sem fronteiras” cativa por empregar lições filosóficas e espirituais sem sermões, algo que talvez não tivesse sido obtido não fosse à presença de Sharif.

São dois filmes que são extremamente necessários para quem gosta de sétima arte e que recompensam as manhã perdidas daqueles que costumas ficar acordados até tarde vendo TV.

Roberto Carlos e a Ditadura.

Roberto Carlos é considerado pelos entusiastas mais xiitas da MPB como um cantor alienado. É visto como a cara ou o cara da ditadura. Obviamente, qualquer comentário que se faça nesse sentido será uma tremenda injustiça com o artista mais popular que o Brasil já conheceu.

O “Rei” não tem culpa de a ditadura ter começado quando ele já fazia tremendo sucesso cantando música jovem. Ele não tem culpa de outros artistas partirem para outros rumos e ele querer ficar naquilo que gostava e que estava dando mais que certo. Tanto é assim, que é admirado, por expoentes da luta contra o governo militar, como Chico Buarque e Caetano Veloso, seus amigos pessoais. Ele e Erasmo mantiveram sua linha de composições coerentemente na época do governo militar e por não mudar sua linha fizeram por merecer em alguns momentos os títulos de cantores da ditadura, mas isso não quer dizer que eles apoiavam o regime. O jornalista Pedro Alexandre Sanches afirma: “Roberto Carlos é grande (mesmo que seja de direita), também porque, do outro lado do espelho, a maioria absoluta dos brasileiros que o inventaram, fermentaram e fizeram vicejar ignora solenemente a luta maniqueísta do “bem” contra o “mal” que a MPB inventou para si. Esses preferem dar de ombros ao falatório estéril e seguir assoviando pela taba “Detalhes”, “Cavalgada”, “Eu Sou Terrível”, “Emoções”, “Quero Que Vá Tudo pro Inferno”.

O Rei foi em 1970 a Londres, onde visitou os amigos exilados Gilberto Gil e Caetano Veloso. Escreveu então uma música para Caetano, que depois retribuiu com “Força Estranha”. “Debaixo dos Cacacóis dos seus Cabelos” é a única música de Roberto que tem alguma ligação direta contra a ditadura.

Roberto Carlos disse certa vez: “Eu sou o que sou e acho que tenho o direito de ser assim. Existem aqueles que se propõem a ser líderes, a fazer uma série de coisas, a tomar um monte de atitudes; eu resolvi exatamente tomar um outro tipo de atitude e que talvez conduza a resultados que esses críticos não conseguiram apreender em meu trabalho.”

O escritor Paulo César de Araújo, biógrafo proibido do cantor afirma: “Roberto Carlos surgiu em um tempo de guerra e em que todos tinham de tomar posições claras sobre todos os assuntos: da política à arte, da cibernética à chegada do homem na Lua, de Roberto Campos a Marshall. Os cantores de formação universitária como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque tiravam isso de letra. Já os cantores suburbanos, de pouca escolaridade e sem hábito de leitura, como Roberto, o que iam dizer sobre esses temas?”

Caetano escreve em seu livro Verdade Tropical: “Nós sentíamos nele a presença simbólica do Brasil. Como um rei de fato, ele claramente falava e agia em nome do Brasil com mais autoridade e propriedade do que os milicos que nos tinham expulsado, do que a embaixada brasileira em Londres que me considerava persona non grata, e muito mais do que os intelectuais, artistas e jornalistas de esquerda que a princípio não nos entenderam e, agora, queriam nos mitificar: Roberto era o Brasil profundo.”

Roberto Carlos não era a cara ou o cara ditadura. O REI é a cara do Brasil.

Rei Roberto Carlos – O artista mais popular que o Brasil já viu

A grande surpresa das seis

Não se pode avaliar uma novela apenas pela primeira semana de exibição, mas os primeiros capítulos da nova novela das 18h da Globo já dão a impressão de que a emissora acertou em cheio pela primeira vez no ano.

Depois da fraca “Insensato Coração” e da repetitiva “Morde & Assopra”, Cordel Encantado, da dupla Thelma Guedes e Duca Rachid impressionou com uma qualidade de imagem, de texto, de direção, que é assinada por Amora Mautner (direção geral) e Ricardo Waddington (núcleo) e de interpretação. A história, típica dos cordéis nordestinos, que mistura reis europeus, princesas, cangaceiros e pessoas comuns do sertão é extremamente agradável e nem um pouco dissonante, como afirmou o autor Aguinaldo Silva. No ar com Lara com Z, que tem perdido para Ídolos, da Record, Silva disse que novela tem que ser fiel a realidade. “Porque pra mim, ou a novela fica igualzinha à vida real e as pessoas acreditam nela e mergulham de cabeça, ou então… Babau!”, escreveu ele em seu twitter, alegando que a baixa audiência da novela no primeiro capítulo era devido a “pirotecnia” e a história que misturou “idade mais ou menos Média” e pulou “pra Lampião Rei do Cangaço” A mistura de todos esses elementos deixa a história ainda mais atraente e gostosa de ver. A qualidade de imagem impressiona, a fotografia é belíssima, tanto nas cenas gravadas na França, quanto nas filmadas no Sergipe.

Com um elenco consistente, destaque para Osmar Prado, como o atrapalhado delegado Batoré, Marcos Caruso, como o prefeito da fictícia Brogodó, para Zezé Polessa, como a primeira-dama Ternurinha, para Berta Loran, que volta às novelas como a rainha mãe e claro, para Carmo Dalla Vechia como o rei Augusto e também para Mohamed Harfouch, que dá vida ao barbeiro Farid. Dos protagonistas Cauã Reymond, Bruno Gagliasso e Nathalia Dill dão o show de sempre. Bianca Bin e Jayme Matarazzo ainda precisam mostra a quê vieram e eles têm talento para isso.

Era de uma novela assim que a Globo precisava. Ficção de verdade, uma história que não tem a pretensão de contar a verdade da vida, de dar uma “lição” na sociedade. Quem quiser realidade, que assista o Datena. Como diz o título, é uma fábula encantada e que não tem e nem deve ter outra pretensão senão entreter.