Milton Nascimento e o Clube da Esquina

Milton Nascimento também surgiu nos festivais, assim como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Geraldo Vandré. Ele impressionou muita gente com seu timbre e com suas composições. “Bituca”, como é conhecido, nasceu no Rio de Janeiro, em 1942 (mesmo ano que outros grandes de nossa música: Caetano, Jorge Mautner, Tim Maia, Paulinho da Viola, Gilberto Gil e Jorge Ben).

Queria o destino que ele se tornasse o maior nome da música de Minas Gerais, para onde foi ainda bebê com sua família adotiva, que se instalara em Três Pontas, cidade no sul do Estado.

Em 1963, mudou-se para Belo Horizonte, onde conheceu jovens compositores como ele. Morava no mesmo prédio da família Borges, que tinha nada menos que 11 irmãos com raro talento musical.

Entrou em um grupo com o irmão mais velho Marilton. Ficou encantado com o talento do caçula, Salomão, o Lô, e ficou o melhor amigo de Márcio. Em BH começou as ter aulas de harmonia com Toninho Horta e formou com Beto Guedes o duo “The Beavers”, depois de passar dias inteiros ouvindo os Beatles sem se cansar ou parar. Os garotos de Liverpool, que tanto influenciaram o Tropicalismo, mexeriam ainda mais com a turma de Minas Gerais.

Em um bar de BH, Lô Borges mostrou a Milton alguns acordes soltos. Milton pegou seu violão e começou a compor uma música em cima desses acordes, ao mesmo tempo Márcio Borges escreveu a letra para a música. Nascia ali, a canção “Clube da Esquina”, que daria nome ao movimento liderado por Milton, que surgiu nas Gerais e se espalhou pelo mundo.

Clube da esquina pode ser qualquer reunião de pessoas em uma esquina de qualquer cidade do planeta, mas se esse cruzamento for o da Rua Divinópolis com a Rua Paraisópolis (nome de duas cidades mineiras) em Belo Horizonte no bairro de Santa Teresa, certamente deverá ser o grupo de músicos que fizeram dessa esquina um lugar utópico que entrou para a história de nossa música.

Milton, pouco tempo depois de chegar à capital, conheceu o cantor Agostinho dos Santos, que, por sua vez, inscreveu três de suas músicas no FIC, sem o conhecimento do compositor: “Maria minha fé” “Morro Velho” e “Travessia”. Quando ficou sabendo, Milton já tinha as três músicas classificadas para as finais do festival.

O disco com esse título “Clube da Esquina” só viria a ser lançado em 72, mas bem antes disto artistas mineiros estavam espalhando os acordes desse movimento pelo Brasil e pelo mundo.

Depois do disco “Travessia” de 1967, na esteira do sucesso no Festival Internacional, Milton chamou a atenção de uma gravadora estadunidense que o convidou para gravar um LP, que saiu em 1968 sob o nome de “Courage”. Ele foi o representante pós-bossa nova do Brasil no mundo.

Juntaram-se a Milton nesse movimento, além de Lô e Márcio Borges, os músicos Fernando Brant, Beto Guedes, Ronaldo Bastos, o pianista três-pontano Wagner Tiso, Toninho Horta e Flávio Venturini, que viria a formar o 14-bis.
Eles combinavam música pop, folclore mineiro, Beatles, pitadas jazzísticas e bossa-novistas, definitivamente algo estava acontecendo em Minas.

Em “Estação Brasil”, Milton diz que não gostava que os chamassem “grupo mineiro”. Eu não gostava desse negócio de grupo e além do mais, não éramos todos mineiros, mas de qualquer maneira aquilo tudo acabou virando um movimento. Teve uma época que teve o Clube da Esquina e a Tropicália, mas falávamos mais ou menos as mesmas coisas, só que de maneiras diferentes.”

Com os discos e as músicas desse pessoal, o “Clube da Esquina” saiu de Belo Horizonte e firmou seu nome junto aos grandes da música brasileira. Como já foi dito, uma das maiores influências para o Clube da Esquina e para a Tropicália e também para muitas coisas que aconteceram no histórico ano de 1968 foram os Beatles, principalmente depois do lançamento em 1967 do disco Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, o mais psicodélico e considerado o melhor disco da Fab Four.

O Clube da Esquina (principalmente Milton Nascimento) é, e tem de ser, reverenciado como um dos melhores (estetica, harmoniosa e melodicamente) “movimentos” da música brasileira.

Abaixo veja uma história em quadrinhos, baseada em uma história contada no livro “Os sonhos não envelhecem” de Márcio Borges. (Clique na imagem para ampliar)

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